quinta-feira, 9 de setembro de 2010

INTRODUÇÃO


Em regiões com elevada probabilidade de ocorrência de chuvas no período de maturação das uvas, como a Serra Gaúcha, é observada com frequência a realização de colheitas antecipadas, em comparação ao ponto ideal de maturação. Essa prática tem sido realizada com o intuito de evitar perdas ocasionadas por podridões dos frutos, porém resulta no comprometimento da qualidade enológica do mosto pela paralisação do processo de maturação (TONIETTO & FALCADE, 2003). O cultivo protegido pela modificação microclimática que pode produzir se torna uma ferramenta, nessas condições de excesso de chuva, capaz de diminuir a incidência de doenças fúngicas e o número de aplicações de fungicidas (CHAVARRIA et al., 2007).
A utilização de coberturas plásticas no cultivo de plantas pode exercer grande influência sobre as condições microclimáticas. De acordo com CARBONNEAU (1984), em vinhedos existem dois tipos de microclima: 1) natural - correspondente às superfícies da ordem de 10 a 100m2; 2) microclima da planta - caracterizado por variáveis climáticas no entorno de cada planta. Porém, as variáveis micrometeorológicas estão estreitamente ligadas à quantidade e distribuição de folhas no espaço (TEIXEIRA & LIMA FILHO, 1997).
Estudos recentes demonstram que a cobertura plástica altera alguns parâmetros de microclima do vinhedo, em particular as temperaturas máximas, a disponibilidade de radiação solar e a presença de água livre sobre as folhas (FERREIRA et al., 2004; CARDOSO et al., 2008). Uma das principais interferências causadas pela cobertura plástica é o aumento da temperatura relacionado à redução da velocidade do vento, que diminui a perda de calor devido à menor movimentação de ar (SEGOVIA et al., 1997). No caso de estufas plásticas, a temperatura do ar interior difere da externa, dependendo da densidade de fluxo de radiação solar incidente no interior destas e do seu manejo (FERREIRA et al., 2004). Segundo SEEMAN (1979), a alteração da temperatura do ar também depende do tamanho da estufa e do volume de ar a ser aquecido.
Em cultivo protegido com abertura lateral para videira 'Cabernet Sauvignon', em Jundiaí, São Paulo (SP), foi observado que as temperaturas máximas e mínimas do ar, nesse ambiente parcialmente modificado, foram mais elevadas que no cultivo convencional a céu aberto (FERREIRA et al., 2004). Na região conhecida como Serra Gaúcha, CARDOSO et al. (2008) destacaram aumento das temperaturas pelo uso de cobertura plástica, com maior efeito no período diurno e menor sobre as temperaturas noturnas.
No uso da cobertura plástica no cultivo de videiras, a velocidade do vento é substancialmente reduzida (CARDOSO et al., 2008). Sabe-se que a ação dos ventos é importante no cultivo da videira, assim como em outras culturas, por alterar a condição térmica do vinhedo, podendo causar danos mecânicos e inibição fisiológica foliar pelo fechamento estomático (PEDRO JÚNIOR et al., 1998).
A radiação solar que atinge a planta é reduzida pela cobertura plástica. Em algumas regiões do Brasil, tem crescido o uso de coberturas na agricultura, buscando a atenuação da radiação solar e possibilitando o cultivo, principalmente de olerícolas em épocas com alta disponibilidade energética. A atenuação da radiação solar pelas coberturas é importante, pois afeta outros componentes do balanço energético, como os fluxos de calor sensível e latente, além da condição hídrica das plantas e do processo fotossintético (PEZZOPANE et al., 2004).
Estudando o efeito da cobertura plástica de polietileno de baixa densidade (160µm), CARDOSO et al. (2008) observaram interceptação média de 30% na radiação fotossinteticamente ativa incidente sobre o dossel vegetativo. Contudo, sabe-se que essa atenuação da radiação é variável de acordo com o ângulo de incidência dos raios solares na cobertura (SENTELHAS et al., 1997), com a transmitância (CRITTEN & BALLEY, 2002), com o tempo de uso da cobertura (REIS & CARRIJO, 1999; VENTURIN & SANTOS, 2004) e com a cor do filme plástico utilizado (SENTELHAS et al., 1997).
Detalhamentos das modificações que o cultivo protegido pode exercer sobre o microclima da videira são de grande relevância, considerando que todas essas mudanças influenciam o rendimento e a qualidade das uvas. Dessa forma, os objetivos do presente trabalho foram avaliar a influência da cobertura plástica sobre o microclima de vinhedos de Moscato Giallo e caracterizar seus efeitos sobre a qualidade da radiação solar.

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